sexta-feira, 19 de março de 2010

A minha história desde campista itinerante, até autocaravanista militante- parte 1

Para memória futura, como agora está na moda utilizar-se quando se pretende deixar testemunho para usar futuramente, vou iniciar o relato das aventuras e também algumas desventuras nas minhas andanças.

Iniciei-me no campismo, como forma expedita e económica de viajar por montes e vales, aldeias e cidades, cá dentro e lá fora, aos meus 15 anos. Foi assim:

Como estudante do secundário em colégio interno (D. Diogo de Sousa, em Braga)tinha uma curiosidade imensa em conhecer mundo e nessa altura - estávamos na década de 60 - sair do país não era nada fácil dados os condicionalismos salazaristas.
No entanto, consegui arregimentar um colega, moçambicano e comigo interno no D. Diogo, portanto livre de compromissos nas férias grandes e disponível para partilhar a minha aventura.
Assim, cheios de curiosidade e também algum receio, de tosca mochila às costas, a abarrotar de comidinha pré-confecionada em casa de meus pais, dois panos de tenda utilizados na então MP, meia dúzia de peças de roupa e algumas pesetas no bolso, lá partimos rumo à Galiza.

O nosso objectivo era percorrer as Rias Bajas, acampando onde calhasse - nessa época não havia condicionalismos tanto ambientais como de segurança.
Assim, após uma passagem clandestina do Rio Minho, lá nos colocámos à beira da estrada, de braço estendido, à boa maneira antiga de pedir boleia. Depois de alguns insucessos, lá conseguimos que uma alma caridosa nos levasse até Vigo. O condutor, galego simpático, quis saber o que andavam a fazer, naqueles propósitos, dois adolescentes portugueses por terras galegas. Contámos a nossa história e, como consequência, "exigiu" que albergássemos em sua casa até ao dia seguinte.

Como poderão imaginar, aceitamos de imediato a oferta e assim nos achámos instalados em casa de uma família galega, sentados à mesa com os anfitriões a petiscar excelentes calamares confeccionados pela esposa. En passand, confesso que ainda hoje, decorridos quase 50 anos, não esqueci o excelente sabor daquele petisco, para nós, até então desconhecido. Ainda por cima, fomos brindados com um excelente branco do Ribeiro que, simples adolescentes, nos causou algum torpor, mas nada que nos descompusesse.

Assim, o que pretendíamos que fosse a nossa primeira noite de acampamento selvagem, acabou por se consubstanciar numa boa noite de sono debaixo de telha.

Após pequeno almoço com leite e churros, enormes agradecimentos aos nossos simpáticos anfitriões e mochilas às costas, lá partimos, Rias Bajas acima, até Sansenxo, onde acampámos em plena praia até ao dia seguinte. Por aí ficámos esse dia e, na noite seguinte, já tivemos companhia de mais dois portugueses, universitários e mais velhos que nós e alunos, na ilha da Tocha, nesse mês de Agosto, de um curso de castelhano para estrangeiros pela Universidade de Santiago. Convidaram-nos a acompanhá-los até lá e, extremamente orgulhosos do convite, fomos com eles, à boleia, claro está.

Com algumas peripécias engraçadas pelo caminho, lá chegámos. Montamos tenda em plena praia da ilha, debaixo de uma frondosa árvore e por aí nos quedamos.

Na tarde seguinte, estando nós tranquilamente deitados na areia e eu a ler - não me esqueço do título:Exudus, do Leon Uris,- aparecem os nossos já amigos, acompanhados por 4 esculturais suecas, suas colegas de curso!

Ficámos de olhos esbugalhados!
Então sou chamado à parte por um deles.
Sai-lhe, de chofre:
- Olha lá ó miúdo, tendes dinheiro?
- Bem... algum, porquê?
- Então é assim: estamos tesos que nem carapaus ao sol, nem para morfes temos. Estás a ver os monumentos aqui ao lado? Tendes duas hipóteses: ou ficais com os vossos cobres e... tudo bem, levais essa vida triste de praia e leitura, ou financiais o pessoal enquanto o dinheiro durar e garanto-vos grandes farras!!
Perante esta proposta, não pensei duas vezes e, sem sequer consultar o meu amigo, aliás no êxtase natural dos seus 15 anitos perante os monumentos a seu lado:
- Ok! tá feito!

Bem... umas férias projectadas para um mês inteiro, resumiram-se a oito memoráveis dias cuja indelével recordação perdura.

Claro que, quando chegámos à quinta de meus pais, o meu velho quis saber as razões do nosso regresso antecipado! Bem... a ele a gente contou, embora muito por alto, mais ou menos como eu vos relato aqui. À minha mãe e à minha irmã, nem pó!

PS- A aventura custou-nos um resto de mês a trabalhar na quinta para ganhar alguns cobrezitos que iam dando para os nossos pirolitos.

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