domingo, 21 de março de 2010

A minha história, desde campista itinerante, até autocaravanista militante, parte 3 : A vida de um Teenagger na década de 60 do Séc.XX

Pois é, hoje vou tentar recordar algumas das peripécias da minha vida, dos 17 aos 20, isto é, desde que entrei para a faculdade até bater com os costados na tropa.

Hoje, já bem entrado na casa dos 60, recordo com alguma saudade a época heróica da minha adolescência e comparando-a com a actualidade dos miúdos de agora, não posso deixar de reconhecer que, nessa altura, a vida de qualquer adolescente da classe média estava extremamente condicionada. A sociedade regia-se por valores que contestávamos mas aos quais estávamos sempre sujeitos, fossem quais fossem as nossas convicções. Debaixo da capa e da desculpa do regime então vigente, vivia-se uma moral jesuítica e castradora e, por consequência, a nossa geração teve de imaginar subterfúgios para a ultrapassar, sem sofrer, ou pelo menos minimizar, as consequências de acções desenquadradas do status quo.
De qualquer forma, a nossa imaginação de adolescentes lá conseguia dar vazão à natural rebeldia própria da idade.
Muitos dos rapazes e raparigas da minha idade, nessa altura e enquanto "liceais" aproveitavam a obrigatoriedade de "alinhar" na Mocidade Portuguesa para, debaixo dessa capa exterior, darem vazão às naturais lutas hormonais, naturais nessas idades, mas na altura muito controladas e reprimidas, organizando convívios, bailes e festas, nas garagens de alguns pais mais liberais. Recordo-me bem do secretismo de que tais acções se revestiam, sob pena de podermos ser acusados de praticar actos condenáveis à luz da moral e da ordem vigente. Ser da MP era como que uma capa de impunidade que sabíamos aproveitar como podíamos. Na faculdade, as coisas eram já de outra forma: Uns estudavam, outros nem tanto; uns eram políticos e estudavam, outros nem tanto; uns eram dados à farra mas ligavam às sebentas e às aulas, outros também eram dados à farra, mas quanto a sebentas, aulas e política nem pó!
Infelizmente, digo eu agora, enquadrei-me nesta última classe, mas na altura, de hormonas aos saltos, as minhas preocupações eram tudo menos os futuro até porque, pensava eu:
- Vou para a guerra , se calhar fico por lá e para quê estudar? Na minha campa nem sequer vai ficar : aqui jaz o Dr fulano de tal, mas sim aqui jaz o alferes ..., portanto vamos viver a hora e o resto se verá.
Nas férias grandes, era a época em que, na praia onde passávamos o verão, nos reencontrávamos todos, após um ano em que cada qual fazia a faculdade em locais diferentes.
Eu, a minha irmã e mais alguns e algumas colegas, passávamos o verão em V.Praia de Âncora, em casa alugada à época e onde todos vivíamos em perfeita comunidade e total harmonia. O nosso grupo, sempre muito animado, era frequentemente requerido para os diversos bailes das redondezas e não nos fazíamos rogados.Lá chegados, era tudo nosso, não só pelo nosso número (cerca de 20), como pela nossa juventude irreverente. Foi por essa altura que conheci o Quim Barreiros, já então grande animador, como tocador de concertina e cantor de brejeirices, nosso parceiro em bastantes farras.
Fosse qual fosse a deslocação, obrigatoriamente tinha que terminar no paredão da praia, ao amanhecer, a comer pão quente previamente comprado e às vezes oferecido na padaria local, besuntado com manteiga, regado com vinho verde (ás seis da manhã!!!) enquanto apreciávamos o banho das senhoras das aldeias, cobertas por combinações (pois a moral não lhes permitia usar fato de banho), mas que, molhadas, deixavam a descoberto todas as suas formas. Para nós, era um espectáculo único!

Portanto, na minha adolescência, o campismo não me atraiu, dado que no verão era praia e durante o ano lectivo, não dava para o campismo, embora a aplicação nos estudos não fosse por aí além. Quanto a escutismo, nunca foi do meu interesse.

Assim se passaram alguns anos até que, mercê do meu mau aproveitamento escolar, tive de abandonar o curso superior na universidade e bater com os costados em Angola onde, aí sim, tive de praticar algumas vezes campismo, mas de outro tipo e nada agradável. A propósito, quero deixar bem claro que, embora não concordando com o regime, nunca alinhei em política. Apesar disso, fui para Angola de livre vontade, podendo não tê-lo feito já que não teria dificuldade em sair do país como alguns fizeram, regressando depois do 25 de Abril se calhar, como muitos, armado em herói quando, em meu entender, alguns deles se valeram de pretextos plíticos para encobrir a sua falta de coragem. No entanto, cada um é fruto das suas circunstâncias e não me interessam as opções de cada um. Eu, optei por cumprir o meu dever. Mas isso são contas de outro rosário.

Regressei, são e salvo e de cabeça erguida do dever cumprido!
Cá chegado, tive de arranjar emprego, o que na época não era difícil e optei, dentre as várias hipóteses surgidas, por ir para a banca, dado que não queria trabalhar com o meu pai, por necessidade de independência e porque pretendia acabar o curso superior deixado a meio.
Com a independência que um emprego fixo me trazia, entendi, então, que era a altura de retomar as minhas andanças campistas.
Se assim pensei, melhor o fiz e eis-me, em determinado verão, ao volante de uma bomba entretanto adquirida (Datsun 1600 SSS, lembram-se do modelo?, bem acompanhado, a caminho de Andorra, que eu já conhecia de outras andanças, onde adquiri uma auto-tenda, toda finess, e que me custou os olhos da cara, mas como já me tinha "aburguesado", não me apetecia andar de tenda às costas.

Assim começa a 2ª parte da minha história de campista. Mas deixo essa história para outro dia.

1 comentário:

  1. muito bom papá! Gostei de te "ouvir" falar da tua vida antes de nós. muito bom, mesmo...

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